quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Homem primata


Não sou contra o capitalismo como forma de organização de um sistema econômico, mas acredito que ele tenha que ser bem dosado. Por vezes, minha indignação me leva a cogitar outras formas mais sustentáveis de economia: acho Marx interessante; mas basta olho para o lado para abandonar os livros e voltar para o capitalismo sem nem pensar, ou respirar, duas vezes. O danado do bicho grilo acaba por atrapalhar aquilo que, teoricamente, defende – agradeço o tio Karl pelas palavras de igualdade mas não pretendo adotar hábitos higiênicos de qualidade duvidosa, tampouco sou fã do figurino estilo Seu Madruga. Cheiro de cigarro me incomoda, vinho ruim não me faz bem (ou seria vinagre) e ainda prefiro as mulheres que depilam, ao menos, as axilas e a virilha.


As grandes empresas não visam o lucro, mas sim o aumento continuo e exponencial do mesmo. A estabilidade é vista como algo ruim por motivos que desconheço. Entendo que o lucro seja o objetivo, claro, se dá prejuízo não sobrevive. Porém, uma empresa não é uma entidade que surgiu do nada. Ela foi criada por alguém que queria ganhar dinheiro para ter uma melhor qualidade de vida. Algumas pessoas trabalham para ganhar dinheiro, poucos porque gostam do que fazem e, ainda, há aqueles que trabalham no que gosta mas precisa do dinheiro para se sustentar. Quanto mais dinheiro, maior qualidade de vida e tempo para praticar o que realmente gosta de fazer. Ou não?


 Vamos supor que um jovem entra em uma grande empresa agressiva para ganhar uma quantidade razoável de dinheiro. Trabalha cerca de quinze horas por dia, inclusive finais de semana.  Tudo de maneira bem condizente com as leis. "Trabalhe somente as suas 8 horas, mas você tem que dar conta de tudo". Ou seja, o serviço o acompanha até em casa. Ao fim de quinze anos, quando sortudo, já é rico. Começa a colocar seu dinheiro em fundos com maior risco, maiores lucros. O dinheiro vai se multiplicando e aos 50 anos ele se aposenta para tratamento de saúde. Tem pressão alta, estresse, calvície precoce, foi chifrado com o melhor amigo e o filho bateu o carro. Faz terapia até os 60, quando morre de um aneurisma. Suponha um professor universitário que trabalha oito horas por dia. Realiza pesquisas científicas nos assuntos que mais lhe interessa, além de buscar novas informações em congressos, debates, simpósios, palestras e encontros. No tempo livro, escreve e lê muitos livros. Durante as férias escolares, fica mais tranqüilo para continuar o trabalho e as pesquisas, além de se dedicar mais à família. Ao fim do ano, viaja a passeio; durante o ano ,pra congresso. Ao morrer, bem avançado de idade, é reconhecido por todos como um grande contribuinte para o desenvolvimento da humanidade. Ganhou o suficiente a vida inteira, mas a viveu bem.

            O erro está em atribuir ao dinheiro importância maior do que esse realmente tem. E mais, a burrice é infinita, mas o capital não. Se uma pessoa vai acumulando mais e mais grana, vários estão perdendo cada vez mais. Se houver empobrecimento da população, haverá queda no consumo; que por sua vez levará à menores margens de lucro e por conseguinte, prejuízo. Ou seja, a ganância exacerbada leva a um esgotamento dos recursos. É preciso administrar também a voracidade e a gula a fim de manter um equilíbrio. A importância suprema do lucro físico e material é, simplesmente, uma das maiores besteiras que já escutei. E não foi de qualquer pessoa que foi proferida tamanha  bestialidade - um gerente de uma das três maiores companias de consultoria do mundo para uma platéia de economistas, administradores e contadores que escutavam atentamente e degustavam cada informação com tamanha altivez e gozo. Ah, se eu fosse francês e soubesse construir uma bomba, não lamentaria a morte de todos naquele auditório lotado. Mesmo com todos os defeitos – que são muitos, variados e irritantes – ainda prefiro a faculdade de filosofia e ciências humanas em detrimento da faculdade de economia.


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