terça-feira, 20 de outubro de 2009

Primeiro Desafio - Texto

Ela partiu e deixou um imenso vazio na vida de Carlos.

 “Doía muito”, ele me disse quando conversei com ele uns três meses atrás. “estou me sentido vazio, sabe”. Tentei consolá-lo e mostrar que a vida é cheia contratempos que não podemos controlar. E com o tempo ele acabaria esquecendo e continuaria a sua vida como antes. Contudo nos meses que se seguiram o que se observou foi a degradação física e mental de Carlos, que acabou por levá-lo a um estado de insanidade.

Carlos conheceu Silvia num grupo de estudos há cinco anos atrás. Logo, se tornaram grandes amigos e não muito tempo depois a intimidade cresceu cedendo o lugar à paixão. Desde então, os dois construíram um relacionamento sólido e sincero. Ao longo de tempo compartilharam os bons momentos e um deu apoio ao outro nas fases mais difíceis. Passaram muitas tardes discutindo as perspectivas e, juntos, construíram planos para o futuro.  E quem quer que os visse não deixaria de perceber que formavam um casal cheio de cumplicidade e carinho, e  que viveriam felizes pelos resto de suas vidas. Pelo menos era o que os amigos diziam... Em uma festa, o próprio Carlos, cheio carinho, brincou naquele estilo brega que só os apaixonados conseguem fazer:

- Ela é a minha cara-metade. Cada pedacinho dela me completa. Já diziam os antigos o homem foi dividido em dois pedaços, então o amor seria quando estas partes se encontravam. Por isso precisamos fundir em um só novamente. O que acha da idéia? – disse voltando o olhar cheio de malícia para a amada

Mas certo dia, Carlos estava de sair com Silvia em um jantar especial comemorando o aniversário de namoro.  Esperou por muito tempo, mas ela não apareceu nem deu algum recado. Era uma situação muito estranha, pois nestes anos todos de namoro ela nunca havia feito algo assim, ainda mais em uma data tão importante. O telefone ninguém atendia. Foi então que Carlos percebeu que algo mais sério tinha ocorrido.  O receio tomou conta dele quando descobriu que nem as amigas nem os parentes sabiam do paradeiro da Silvia. Logo, entrou em desespero e esperando pelo pior contatou a policia, mas disseram que não tinham nenhuma notícia e assim que fosse possível, averiguariam.  Carlos já não sabia mais o que fazer...Mal ele sabia da dor e tristeza que lhe estavam reservadas.

Três dias depois ele descobriu que Silvia não havia voltado para casa pois havia partido para outro país com um estrangeiro que conhecera em um congresso. O amor antes sincero e devotado ao outro cedeu ao amor próprio. E foi assim que ela partiu.

Carlos ficou muito abatido e, por mais que fosse consolado por todos e recebesse ajuda de especialistas, não conseguiu se recuperar. Ele estava agonizante e dizia que sentia um grande vazio. Vazio da parte que ela ocupava na vida dele.

O tempo passou e Carlos foi definhando dramaticamente, chegando num momento em que não podia mais sair da cama. E assim passava o dia deitado com um olhar vago e angustiado. Todos estavam muito tristes por ele. Foi então que a sua frustração deu lugar à insanidade. A suas idéias ficaram cada vez mais confusas e as conversas não fazia mais sentido algum. Mas o mais perturbador era que vez ou outra no meio da noite ouvia-se ele gritar em seu quarto como se houvesse alguém lá com ele:

- Não pode simplesmente separar um do outro e ir embora. Um pedaço de você não pode ir embora sem deixar um vazio na sua vida!!! Seu estúpido, como você não entende?

E assim, todas as noites ele delirava e repetia “que dor sinto por dentro, ela levou um pedaço de mim! por que tem que ser assim? Você não pode fazer nada? Por favor, ajude-me!”

Finalmente, no final de abril fizemos uma visita. Ao chegarmos no quarto em que ele estava, ficamos chocado com o seu estado, um aspecto horrível. Sua pele estava muito pálida e gelada, e em algumas partes do corpo percebemos manchas verde.  Os olhos permaneciam semi-abertos, e me parecia que ele já não ouvia ou escutava nada. Com uma grande dificuldade ele respirava e abria a boca para tentar dizer algo. Mas este esforço era em vão, pois não compreendíamos uma palavra sequer.

Em um determinado momento, o seu rosto adquiriu contornos de sofrimento. E um cheiro desagradável tomou conta do quarto. Estava um ambiente muito pesado e desagradável, então, lembrando-me do bom-humor de Carlos fiz um gracejo “ah, não é nada demais, é só uma flatulência ou dor de barriga, gases saindo...”

Mal terminara de dizer estas palavras quando tudo aconteceu muito rapidamente. Até hoje, todos nós presentes lá, estamos extremamente chocados e abalados com o que vimos naquele dia. Seus olhos cerrados e a boca escancarada indicaram uma dor dilacerante que o consumia internamente. O horror e nojo foram extremos quando da sua boca aberta foi expelido um cheiro nauseabundo acompanhando por ruídos internos. O seu peito contraía violentamente , e vapores se irrompiam pela pele.  Fomos tomados por náuseas por aquele cheiro pútrido de bicho em decomposição.  E a cada pulsão de seu corpo nos o vimos esvaziar! Sim, esvaziar! Oh Deus, que cena horrível! Com os nossos olhos testemunhamos o corpo de Carlos murchar sob os ossos e uma carcaça repugnante se formar em meio a um liquido verde e viscoso. No final restou um espectro hediondo, uma massa asquerosa que muito de longe lembrava uma figura humana.

Os médicos ficaram assustados com o que viram. Disseram que por dentro Carlos estava completamente necrosado, seus tecidos estavam podres e carcomidos. Porém, o mais estranho foi o fato dos órgãos, sem motivos conhecidos, se transformaram em líquidos e gases deixando um grande espaço vazio em seu corpo.....

Um comentário:

  1. Gostei desse texo,ele me lembra os do Edgar Alan Poe, mas sou obrigada a dizer: Que NOJO! :)

    ResponderExcluir